Sobre crianças e a morte

Lidar com a morte é uma tarefa difícil para os adultos e há um dilema quanto a como tratar da morte com as crianças. Elas devem estar presentes nos velórios e sepultamentos? A partir de que idade podem compreender a perda de um ente querido? São capazes de lidar com o luto?
Não posso dar respostas exatas a essas perguntas. Mas gostaria de compartilhar um fato que aconteceu comigo recentemente e me fez pensar muito sobre essas questões.
Perdi uma grande amiga de forma muito inesperada. Ela era jovem - da minha idade -, recém-casada, apaixonada pela pequena filhota que completaria um ano na semana seguinte.
Fui ao velório acompanhada de meu marido e do Marquinhos, meu menino, de apenas dois anos e meio. Foram longas horas de muita dor e muitas lágrimas misturadas aos cuidados com o pequenino que queria ver e tocar em todos os cataventos que enfeitavam os túmulos do cemitério.
Quando o corpo saía para o sepultamento, a pessoinha mais sábia no meio daquela multidão me dizia: "mamãe, a sua amiga foi pro céu, morar com as estrelinhas."
A partir daquele momento ele não aceitava mais sair do meu colo. Ele queria ficar próximo a mim. Ele sabia o quanto eu precisava ser consolada.
Quando o caixão ia sendo baixado à morada final, enquanto eu me debulhava em lágrimas mais uma vez, meu pequenino começou a beijar meu rosto insistentemente, até conseguir me tirar um sorriso.

Nós, adultos, queremos dizer tantas coisas nos momentos de dor. Queremos explicar tudo: a vida e até a morte. Queremos que as pessoas aceitem tudo imediatamente e "engulam o choro", afinal, "você tem que continuar sua vida", "você tem que superar". A sabedoria de uma criança é diferente: ele não precisou me dizer nada. Com seus beijos doces, meu pequeno me mostrava que ele estava ali pra me ajudar a me sentir melhor.
Acho que as crianças aprendem muito participando dos nossos momentos de dor, como empatia, por exemplo. Descobrem também que seus pais são seres humanos e choram assim como eles.
O que aprendi nesse dia foi que meu filho sabe lidar com o luto melhor do que eu mesma. E que tenho muito que aprender com ele.


***
Com essa história inicio as postagens neste blog. A princípio, pretendo que ele seja um diário, onde eu possa compartilhar minhas experiências, desafios e aprendizados da maternidade.
Acho que será bom poder externar as sensações e pensamentos que vêm em turbilhão junto com a maternidade!
Um beijo,

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